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Virtual afinal o que vem a ser???

"Virtual"

Origem:

Wikipédia, a enciclopédia

livre.


"Há muitas concepções de virtual."


"Algumas das definições mais comuns são estas:"...


  • "Algo que é apenas potencial ainda não realizado (a definição histórica). Virtual referir-se-ia a uma categoria tão verdadeira como a real. O virtual não seria oposto ao real. O virtual pode ser oposto ao atual, porque o virtual carrega uma potência de ser, enquanto o atual já é (ser).
  • Algo que não é físico, apenas conceitual.
  • Algo que não é concreto. Virtual é tudo aquilo que não é palpável, i. e., geralmente alguma abstração de algo real.
  • A simulação de algo, como em Realidade Virtual, Memória virtual, Disco virtual."

O que é virtual?

Com o desenvolvimento das comunicações computadorizadas em rede, se popularizaram os termos "virtual" e "virtualidade". Popularmente, chama-se "virtual" tudo aquilo que diz respeito às comunicações via Internet. Nesse sentido, a Wikipedia poderia ser chamada uma "enciclopédia virtual", embora essa acepção da palavra seja imprópria porque "virtual" implica o conceito de uma simulação, o que nem sempre é verdade. Em muitos casos de expressões como "amigo virtual" ou "universidade virtual" o adjetivo "remoto" ou "à distância" se encaixaria com mais propriedade.

Pode-se ter uma idéia melhor sobre o termo "virtual" e suas implicações lançando mão da Semiótica peirceana, que estuda o relacionamento dos fenômenos do universo.

Tudo é virtual?

Um dos mais conhecidos autores a tratar do tema é o francês Pierre Lévy. Em seu livro "O que é o virtual?", ele define:

"o virtual não se opõe ao real, mas sim ao actual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objecto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a actualização." (LÉVY, 1996, p.16)

Lévy compara o virtual a um problema muito complexo ou a um acontecimento que precisa de uma solução. Esta solução é proporcionada pela atualização, que vem a ser o inverso da virtualização. Completando seu raciocínio, diz que a virtualização consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma "elevação à potência" da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma "solução"), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num campo problemático. Verifica-se, portanto, que ocorre um círculo: a atualização soluciona um problema e a virtualização de uma solução gera um outro problema.

Na tentativa de explicar melhor o que é "virtual", Lévy descreve a situação de uma empresa com departamentos longe da matriz.

"A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da actualização. Consiste em uma passagem do actual ao virtual, em uma 'elevação à potência' da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objecto considerado: em vez de se definir principalmente por sua actualidade ('uma solução'), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático" (LÉVY, 1996, p.17).

Ele afirma que "a palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado, por sua vez, de virtus, força, potência. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização efetiva ou formal", ou seja, é algo que não existe na forma física.

Pode-se afirmar que o virtual é uma realidade que veio facilitar a vida do ser humano, pois através do virtual, que se encontra num suporte material (o computador), é possível obter várias informações (interagir) com outras pessoas.

Para Lévy, o virtual é mediado ou potencializado pela tecnologia; produto da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos.

Lévy usa o termo para criar especulação filosófica: fala de "virtualização" aplicada a, praticamente, todos os aspectos da vida humana: "Três processos de virtualização fizeram emergir a espécie humana: o desenvolvimento das linguagens, a multiplicação das técnicas e a complexificação das instituições" (LÉVY, 1996, p. 70). E assim por diante. Ao final do livro, fica-se imaginando que tudo é virtual.

Em Pedagogia, é freqüente o uso de "virtual" na designação de sistema de colaboração em rede. Como em "ambientes virtuais de aprendizagem", por exemplo. Em informática, é muito usado para designar sistemas de animação tridimensional em tempo real: realidade virtual. "Virtual" também é um termo usado largamente para designar qualquer relacionamento mediado por redes de computador. A midia de informática, principalmente, ajuda a popularizar a "virtualidade", porque é uma palavra que sempre chama atenção, está sempre ligada a novas tecnologias e ao modismo tecnológico.

Realidade virtual

O termo realidade virtual popularizou-se a partir de 1989, cunhado por Jaron Lanier. Segundo ele próprio:

"Eu originalmente me aproximei do termo como uma reação ou uma resposta a um termo que já estava por aí. Tinha um cara chamado Ivan Sutherland -- ele é o pai da computação gráfica -- e ele usava o termo 'mundos virtuais', o qual na verdade remete a uma filósofa das artes chamada Suzanne Langer. Ela falava sobre mundos virtuais nos anos 1950, antes que houvesse tecnologia para imaginá-los; ela estava usando o termo como uma metáfora". (BEHR, 2002)

Suzanne Langer, uma filósofa da música, descreveu estas concepções de virtual no livro Sentimento e Forma, publicado originalmente nos anos 1950 (LANGER, 1980). Para ela, olhando um quadro figurativo criaríamos em nossas mentes um "mundo virtual". Um quadro de paisagem criaria aquela paisagem em nossa mente.

Este tipo de operação mental (representações em nossa mente causadas por fenômenos externos) foi explicado por Charles Sanders Peirce há mais de cem anos, ao definir a Semiótica como a ciência dos signos. Para ele, signo é algo que está no lugar de outra coisa, representando algo para alguém (PEIRCE, 1977, p. 46). Um quadro de paisagem estaria no lugar da paisagem real, por exemplo. Representaria a paisagem, seria um signo icônico dela.

Mas Peirce pensava Semiótica como o estudo da significação não apenas entre seres vivos. Ele falava na representação "para alguém" porque não era compreendido quando falava em representação para "alguma coisa". Os signos não representam, necessariamente, para um ser humano, mas também para um outro fenômeno qualquer. Hoje, por exemplo, podemos ver como semiose um elétron interagindo e significando algo para um próton e vice-versa, formando uma nova significação: um átomo de hidrogênio; átomos de hidrogênio interagindo com átomos de oxigênio formando nova significação, a água. E assim por diante, no processo que Peirce chamou de cadeia semiótica, uma rede infinita de significações.

Virtualidade como fenômeno

Pelo conceito de semiose, a concepção metafórica de "virtualidade" de [Langer], de que o cérebro forma "um mundo virtual", é apenas mais um nível da semiose. Não haveria, então, um "outro mundo" dentro de nossas cabeças, mas apenas um nível de significação fazendo parte da [cadeia semiótica].

Além disso, concepção mental não é algo irreal, "virtual", porque nossos pensamentos são coisas reais e materiais: pelo que se sabe do cérebro, hoje, os pensamentos são definidos por ligações sinápticas entre células nervosas. Nossas concepções mentais, nossas idéias, nossos sentimentos, conceitos, nossa imaginação, tudo isto são coisas físicas, interações entre células nervosas mediadas por neurotransmissores e energia elétrica. Pensamentos são esmagadoramente físicos. Não são exatamente coisas, mas interações entre coisas aparentemente físicas, que por sua vez são interações entre outras coisa, que são interações entre outras coisas, infinitamente. Tudo no universo é resultado de interações entre fenômenos, num complexo "joguinho de armar".

Ambientes virtuais de aprendizagem

Por que sistemas de ensino por computadores em redes seriam "virtuais"? Em oposição ao ensino presencial? Vamos analisar, então uma interação presencial.

Quando pessoas se encontram ao vivo, elas só sabem da presença da outra pelos cinco sentidos do ser humano.

  • Visão. Vemos outra pessoa graça à luz. Então somos mediados pela luz. Não vemos a outra pessoa, vemos a luz que refletiu nela e chegou às nossas retinas.
  • Audição. Não ouvimos a pessoa: ouvimos as vibrações no ar feitas pela outra pessoa.
  • Olfato, gustação, tato. Podemos sentir o cheiro da pessoa. Mas o que sentimos são informações nervosas desencadeadas por substâncias exaladas pela outra pessoa e que chegam ao nosso sistema olfativo. Da mesma forma, o tato e a gustação.

O que não é virtual?

Uma interação "ao vivo", então, é mediada pela luz e pelo ar. Nas interações por computador, estes dois meios são traduzidos mais algumas vezes: a luz e o som são transformados em impulsos elétricos, depois digitalizados, transformados em orientações magnéticas (nos disco de computador), em energia elétrica (nos circuitos eletrônicos), em luz (nas fibras ópticas), em ondas eletromagnéticas, etc, e decodificados novamente na outra ponta da comunicação. O que aconteceu, na verdade, foi traduzir algumas vezes a informação, mediar mais algumas vezes uma mediação que já existia. Toda interação é mediada, não importa sua natureza. Isto acontece com pessoas ou com qualquer outra coisa no universo.

Não existe, a rigor, diferença entre uma interação ao vivo e uma interação por computador, a não ser na forma de maior resolução e qualidade da mediação. Uma interação ao vivo tem maior resolução, maior quantidade de informações que uma mediação por computador. Mas também é mediada. Sendo ambas interações mediadas e tendo ambas a mesma natureza, como todas as mediações, não faz sentido diferenciá-las, a não ser pelo nome da mídia: interações ao vivo, interações online, por exemplo.

Considerações finais

Em Pedagogia, Informática e Comunicação, os termos "virtual" e "virtualidade" são definidos imprecisamente ou impropriamente e não explicam a natureza dos fenômenos em que são aplicados.

Como significado oposto ao real indefinido, não devem ser usados porque todas as interações que existem no universo são reais, inclusive a imaginação. Ou, visto pelo ângulo da Semiótica, todos os fenômenos do universo são significações.

Como significado de simulação ou de interações por redes de computadores, "virtual" não deve ser usado porque leva à confusão com o uso histórico do termo. Existem opções mais precisas: ambiente online ou ambiente simulado são bem mais explicativos que "ambiente virtual". Realidade simulada, melhor que "realidade virtual". Como metáfora de sala de aula presencial, é desnecessário, pois a função da metáfora seria explicar algo complicado, e, hoje, praticamente todo mundo entende o que é comunicação via internet sem necessidade de metáfora. Seria o mesmo que nos referirmos a automóveis como "carruagens sem cavalo."



"Índice



Bibliografia

  1. BEHR, Mary E. Who is Jaron Lanier? INTERVIEW: Jaron Lanier, "Virtual Reality" Inventor. ExtremeTech, 12 fev. 2002. Site web em <http://www.extremetech.com/article2/0%2C1558%2C100970%2C00.asp>. Lido em 19 jan. 2005.
  2. LANGER, Suzanne K. Sentimento e forma. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 1980. 439 p.
  3. LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.
  4. PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. S. Paulo: Editora Perspectiva, 1977.
  5. ROCHA, José Antonio Meira da. Espaço e tempo no jornalismo online. Dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação na Unisinos. 2003. Documento PDF em <http://meiradarocha.jor.br/news/wp-content/uploads/2007/11/dissert-2007-04-18b.pdf>. Acesso em 19 jan. 2005.
  6. ROCHA, José Antonio Meira da. O mito do virtual e da virtualidade. Página Web disponível em: <ROCHA, José Antonio Meira da>. Acesso em: em 9 nov. 2005.

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